Organizamos as roupas e os sapatos. Logo o domingo chegava ao fim. Fiquei vendo filme e Christopher tocando aquele violão. Não posso negar que ele tem talento.
— Dul vamos criar uma música?
— Eu não tenho talento para essas coisas Chris.
— Af, para de se subestimar. Vamos lá.
— Ah, então você toca e eu canto.
— Ok.
— Mas você compõe também.
— Tudo bem.
Ele começou a tocar qualquer coisa, isso era bem difícil, devíamos ter ficado mais de horas tentando compor alguma coisa, nenhum dos dois se concentrava.
— Melhor, você tocar alguma música que já existe né?
— É. — ele riu — Mas qual?
— Clarice Falcão.
— Hum, sei quem é, mas eu só sei uma.
— Pode ser, começa aí.
" Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar
Onde a dona Maria mora
Porque ela me adora e eu sei que posso entrar.
Era bem o tempo de você chegar no T
Olhar no espelho seu cabelo
Falar com seu zé
E ver caindo em cima de você
Como uma bigorna cai em cima de cartoon
Qualquer
Eai
Só nós dois no chão frio
De conchinha bem no meio fio
Com o asfalto riscado de giz
Imagina que cena feliz.
Quando os paramédicos chegasses e os bombeiros retirassem nossos corpos do Leblon
A gente ia para o necrotério ficar brincando de sério deitadinhos no bem bom.
Cada um feito um picolé
Com a mesma etiqueta no pé.
Na autópsia daria pra ver
Como eu só morri por você.
Quando eu te vi fechar a porta eu pensei em me atirar pela janela do oitavo andar
Em vez disso eu dei meia volta e comi uma torta inteira de amora no jantar.
— Dulce María, você tem talento!
— Não tenho e mesmo se tivesse eu não quero seguir nenhuma carreira desse tipo sabe?
— Sei. O que quer fazer da vida?
— Sei lá, no momento eu ainda não sei o que fazer.
— Tem carreiras boas, medicina, essas coisas...
— Ah mesmo assim, elas não são para mim.
— Enfim, eu ainda terei tempo.
— O filme já acabou?
— Você nem viu!
— Nossa.
— Eu não entendi muito bem, mas era bonzinho.
— Aonde que a Blanca e o meu pai foram?
— Visitar nosso mais novo vizinho.
— Ah é, você tinha dito.
— Eles estão demorando.
— Deve estar tendo um jantar, lá, não sei né.
1 mês depois:
Faltavam dias apenas para meu aniversário de dezesseis anos, o que me deixava entusiasmada. Christopher já estava morando em seu próprio apartamento. Minhas férias já estavam chegando, eu estava em período de provas. Havia acabado de chegar de lá. Subi e me joguei na cama.
Minha mãe já estava com quase um mês de gestação. Passou bem rápido! Hoje a noite iria dormir na casa de Anahi e no dia seguinte, visitar Chris. Logo minha mãe entrou no quarto.
— Minha menina, que preguiça!
— Aí mãe, pior que é.
Ela se sentou em meu lado.
— Estou tão feliz, seu irmão está bem!
— E não era para ele estar?
— Lógico que era, mas podia ter alguns riscos né?!
— Riscos?
— Eu não disse Dulce?
— Disse o que?
— Eu fiz inseminação artificial.
— Sério?! — me sentei em sua frente interessada no assunto.
— Sim, quando Victor era mais novo, fez vasectomia, então esse filho é só meu, entende? Com meus genes e de um doador desconhecido.
— Eu não sabia disso, nossa.
— É, mas então, vai visitar seu irmão, amanhã?
— Óbvio mamãe.
— Hum. Dul...eu estava aqui pensando..
— O que foi?
— Ah, meu amor, dá o braço a torcer.
— Pra que mamãe?
— Você nunca mais se relacionou com ninguém! Dá uma chance para o Xavier.
— Não, mamãe, nossa! Eu já disse que não, aceita minha opinião.
— Vai morrer virgem!
— Nossa, que apoio que minha mãe me dá, aí eu apareço grávida, reclama.
— Ah minha filha, não foi isso que eu quis dizer, pelo que eu sei você não deu nem seu primeiro beijo.
— E o que que tem? — Pausei — Me dá licença mamãe, irei dormir um pouco, tchau.
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